quinta-feira, 18 de julho de 2013

Efeméride: Hector Casimiro Yazalde faleceu há 16 anos

Hector Yazalde nasceu num bairro pobre de Buenos Aires e enquanto criança alimentava dois sonhos: ser médico e jogar futebol no Boca Juniors. Acabaria por superar todos os sonhos quando se tornou uma lenda no Sporting Clube de Portugal.

Mas aos 13 anos percebeu que não iria realizar o primeiro, pois teve de começar a trabalhar para ajudar no sustento de uma família com oito filhos. Foi vendedor de jornais, de bananas e quebrou gelo, mas do futebol ninguém o podia desviar. Hector Yazalde ('Chirola') O seu primeiro clube foi o Los Andes, mas em 1965 foi ver um treino de um amigo que jogava no Piraña, um pequeno clube de Buenos Aires, e acabou por também treinar. Impressionou de tal forma, que foi contratado nesse mesmo dia, recebendo então 2000 pesos, tanto quanto ganhava habitualmente num mês. Dois anos depois transferiu-se para o Independiente, onde confirmou que tinha nascido para fazer golos.

Não sendo um jogador alto pois só tinha 1,76m, era um avançado possante, destemido e muito eficaz na hora de finalizar, usando o seu forte remate ou o seu bom jogo de cabeça. Mas acima de tudo tinha aquele instinto de matador, que abençoa os grandes goleadores, que parecem adivinhar sempre onde é que a bola vai cair. No Independiente foi duas vezes Campeão e considerado o Jogador do Ano em 1970, quando o campeonato se decidiu no último minuto com um golo seu. Chegou então à Selecção principal do seu País, depois de já ter sido internacional júnior, estreando-se num jogo frente ao Brasil e despertando a cobiça de Clubes como Santos, Palmeiras, Valência, Lyon, Nacional de Montevideu e Boca Juniors.

Estávamos em Janeiro de 1971 quando Yazalde então a gozar férias, foi alertado para a presença em Buenos Aires de Abraão Sorin, um destacado dirigente leonino, que foi à Argentina convencer o "Chirola" a vir para o Sporting. O acordo foi rapidamente selado pelo valor de cerca de 3500 contos e Yazalde chegou a Lisboa a 11 de Fevereiro, depois de ter mandado construir uma vivenda numa zona chique da Capital do seu País, para onde foram viver os seus pais. Depois do seu jogo de apresentação logo em Fevereiro de 1971, "Chirola" estreou-se a jogar pelos Leões a 12 de Setembro de 1971 com um hat-trick, em vitória frente ao Boavista (4-1), no primeiro jogo do Campeonato Nacional dessa época. Apesar desse bom começo, a sua adaptação ao futebol português foi algo difícil. Porém, na temporada 1972/73 Yazalde já foi o melhor marcador da equipa e contribuiu para a conquista da Taça de Portugal, marcando um golo numa Final em que o Sporting ganhou ao Vitória de Setúbal por 3-2.

A época de 1973/74 foi memorável para o Sporting, mas principalmente para Yazalde, que ao marcar 46 golos no Campeonato Nacional, conquistou a Bota de Ouro que consagra o melhor marcador dos campeonatos disputados na Europa. Como prémio recebeu também um Toyota, que vendeu dividindo o dinheiro com todos os companheiros de equipa, reconhecendo assim a importância deles na sua proeza, com natural destaque para os extremos Marinho e Dinis, com os quais formou uma linha avançada memorável, um soberbo meio-campo onde pontificavam Vagner e Fraguito e um utilíssimo 2º ponta-de-lança Nelson Fernandes. Infelizmente lesionou-se com uma micro-rotura no fim dessa temporada, e assim não pode participar nas meias finais da Taça das Taças, em que o Sporting acabou por ser ingloriamente eliminado, tendo inclusivamente Dinis falhado um penalti, o que como não poderia deixar de ser, fez com que todos se lembrassem dele, entre outros episódios 'de-ir-à-bruxa', como a perdida de Tomé na 2ª mão. Também não participou em nenhum jogo da Taça de Portugal que o Sporting voltou a ganhar nessa época, e nem sequer marcou presença no Jamor no dia da Final, pois já estava na Alemanha em tratamento, tentando recuperar para o Mundial de 1974, onde esteve em representação da Argentina encerrando aí a sua carreira de internacional, na qual marcou 2 golos em 10 jogos. No entanto não se esqueceu de mandar um telegrama a felicitar os seus companheiros por mais essa conquista, materializada com uma vitória por 2-1 sobre o Benfica.

Na temporada seguinte voltou a ser o melhor goleador do campeonato português, agora com 30 golos, que lhe valeram a conquista da Bota de Prata, como o segundo melhor marcador dos campeonatos disputados na Europa, acabando por ser vendido ao Marselha por 12500 contos, quando um ano antes o Real Madrid tinha oferecido 27000. Foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria Atleta Profissional nos anos de 1973 e 1974.

O final da carreira foi em França, continuou a marcar golos e ganhou mais uma Taça, mas já sem a pujança demonstrada no Sporting, acabando por regressar ao seu País, onde encerrou a sua brilhante carreira no Newell's e finalmente no Huracán, tonando-se depois empresário de futebol, tendo sido o responsável pela vinda de Saucedo para o Sporting. A sua vida pessoal em Portugal, foi mediática, casou-se com a actriz Carmizé, com quem formou um dos casais mais badalados da altura, e de quem teve dois filhos, mas acima de tudo deixou sempre vincado o seu grande humanismo e preocupação com as desigualdades sociais, principalmente em relação às crianças, nunca esquecendo as suas origens humildes.



Yazalde marcava golos com uma facilidade impressionante devido em grande medida à simplicidade de processos que executava dentro da grande área. Talvez tenha sido o melhor jogador estrangeiro que passou pelo Sporting, e ficou para a história do Clube como um dos seus maiores goleadores de sempre, com uma média de um golo por jogo no campeonato, uma marca só superada por Peyroteo. No total marcou 155 golos de Leão ao peito, 126 dos quais em jogos oficiais, e 50 na época de 1973/74. Para além do valioso atributo de "matador", Hector Yazalde era também conhecido pelo desportivismo e fair-play com que encarava todos os jogos, nunca reagindo de modo negativo às inúmeras entradas duras e maldosas que sofria fruto do lugar específico que ocupava dentro de campo. Padecendo de cirrose hepática, faleceu em Buenos Aires a 18 de Julho de 1997 com 51 anos, vítima de uma hemorragia e paragem cardíaca, mas no Sporting Clube de Portugal já tinha garantido o seu lugar no clube dos imortais. 

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